É certo que o cenário de ensino-aprendizagem foi amplamente transformado no período dos últimos meses de pandemia no Brasil. Mas há um vício antigo nesse campo e que permanece inalterado. Trata-se de uma ênfase muito grande na importância da nota escolar em comparação com a efetiva experiência de aprendizagem.
Por um lado, é compreensível que essa característica seja proeminente em nosso tempo, estamos sempre preocupados com uma competição que insiste em aparecer em diversos contextos de vida, incluindo a escolarização de nossos filhos. A expressão numérica de uma nota é só mais um elemento dessa corrida de competição.
Em se tratando da vivência escolar sob a ótica do estudante que acumula certa autonomia, é certo de que ele vai eventualmente, por instinto de sobrevivência escolar, preferir entregar uma tarefa de casa mal feita ou copiada evitando a perda de pontos.
A preocupação maior reside em como essa herança se constrói desde os primeiros anos, com os pais dos pequenos, que por provável intenção de ajudar acabam realizando eles mesmos as atividades por seus filhos.
Uma breve conversa sobre o tema com professores do ensino infantil e nos daremos conta de que isso é mais comum do que se pode imaginar, com a apresentação de atividades inteiras feitas com letras dos adultos, incluindo desenhos.
O cenário dessa importância equivocada também surge no modo de pensar do estudante, ele se sente bem satisfeito – e até aliviado – quando consegue entregar a prova ou a lição de casa e não costuma lembrar de se questionar sobre o aprendizado daquilo que refletiu sua produção acadêmica.
Sob um aspecto mais amplo da educação, o prejuízo mais perceptível é a dificuldade que os professores sentem ao realizar as avaliações constantes daquilo que ensinam e, principalmente, a retirada da possibilidade de evolução real pela experiência da criança.
No âmbito individual de cada estudante, essa valorização destacada sobre as suas notas faz com que a pressão exercida neles seja expressada a partir de um número.
O problema é que esse valor numérico raramente é fiel em relação ao que foi aprendido de fato e também pode representar o papel do vilão na experiência do fracasso quando as expectativas não são atingidas – como em situações onde o estudante sofre em demasia ao obter nota inferior àquela que lhe foi exigida.
Noventa pontos pode representar a vitória, enquanto oitenta e nove pode ser capaz de nos derrubar.
O reconhecimento das aprendizagens reais e obtidas por curiosidade genuína dos estudantes pode ser criado na relação com os filhos em casa. Após a aula, ao pegá-los da escola, prefira perguntar – e ouvir com interesse – sobre o que aprenderam naquele dia ao invés de lhes cobrar um número de nota ao fim da semana de provas.




