O descontrole da cotação da moeda norte-americana impacta no nosso custo de vida
Entre tantas pérolas proferidas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, está a seguinte: “só se for feita muita besteira para o dólar passar dos R$ 5”. A frase foi dita no começo de março de 2020, antes da pandemia de covid-19.
De lá para cá, o dólar não só passou dos R$ 5, como chegou bem perto dos R$ 6 e tem ficado nesse patamar. A disparada e esse sobe desce dentro de níveis altos não é nada mal para o dinheiro que Paulo Guedes e outros trilionários têm aplicados nos paraísos fiscais – as chamadas ‘offshore’.
Essa aplicação é em dólar, portanto, quanto mais o dólar se valoriza frente ao real, mais essa gente ganha. Nós, trabalhadores, microempreendedores, estudantes, ou seja, a absoluta maioria da população brasileira tem sido castigada por esse descontrole da cotação do dólar.
Antes, vale abrir parênteses: o dólar acima do real não é de todo ruim. Como a moeda norte-americana é a que rege as relações comerciais internacionais, quando o dólar vale mais que o real nossos produtos ficam a preços vantajosos no exterior. Assim, exportamos mais. Também temos condições de atrair investimentos estrangeiros, porque se torna interessante para as empresas de fora. Portanto, exportando mais e recebendo investimentos, é mais dinheiro entrando na nossa economia.
No entanto, essa subida não pode ser desenfreada. E não pode ocorrer de uma vez. Mais ainda: precisa ser estável, e não essa gangorra. É preciso haver um controle, porque, como muitos produtos seguem a cotação do dólar, e o Brasil depende demais de itens importados, o dólar galopante leva a essa inflação assustadora em que estamos metidos.
Você sabe: o petróleo, matéria-prima de uma quantidade gigantesca de produtos, tem cotação em dólar. Se a moeda norte-americana sobe muito o tempo todo, os combustíveis ficam mais caros, o gás de cozinha vai às alturas, artigos de limpeza e higiene também encarecem – toda a cadeia produtiva inflaciona. Citamos o petróleo, porque é o caso mais clássico. Mas há uma porção de outros impactos.
O papel jornal, por exemplo, necessário para que o Caderno do Bairro chegue a suas mãos, tem o preço dependente da cotação em dólar. Fica mais caro levar informação até você; é um esforço imenso para que possamos continuar prestando esse serviço. Enfim, o custo de vida fica insuportável, como estamos sentindo na pele.
Para os mais pobres e a classe média, o efeito é ainda mais cruel, porque não temos dinheiro em ‘offshore’ para lucrarmos. Nossos ganhos vêm do nosso trabalho, não de aplicações na ciranda financeira dos paraísos fiscais.
Como, então, resolver o problema?
Primeiro, deixando de “fazer besteira”, como o próprio ministro da Economia confessou. Deixar de fazer besteira significa, como primeiro passo, deixar de criar o caos, deixar de por lenha na fogueira. Parar de inventar problemas e enfrentar a realidade. Seria um bom começo. Porém, é preciso mais.
É preciso adotar uma política econômica voltada ao desenvolvimento econômico e social, e não aos interesses do mercado financeiro. O dinheiro que o governo gasta com juros da dívida pública (uma dívida que não se sabe exatamente de quanto é, mas que engorda o lucro dos bancos) tem de ser aplicado em obras e serviços públicos. Porque, além de melhorar a condição de vida do povo, esse dinheiro faz girar a roda da economia.
Entre janeiro e o dia 10 de outubro deste ano, o governo federal já destinou R$ 300 bilhões ao mercado financeiro, segundo o placar ‘Jurômetro’, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Com esse dinheiro, o governo poderia ter construído 4,5 milhões de casas populares. Ou implantado 200 milhões de ligações de água e esgoto, resolvendo a falta de saneamento básico.
Seriam mais obras, mais emprego, mais empreendedorismo, mais renda.
Seria um país mais desenvolvido, mais estável, portanto menos dependente das variações do dólar e de outros fatores externos.
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