Acabo de retornar de um Congresso multiprofissional sobre o Luto. Foram experiências marcantes e transformadoras. Mas trago também incômodos e motivações.
Tenho muitos pacientes que se queixam de conseguir falar sobre seus lutos (a falta de alguém especial ou de algo) somente em situação de consultório. É injusto encontrar boas condições para um assunto tão universal em tão poucos lugares.
O luto é uma dessas situações onde, sem pedir, nos tornamos vítimas de um sofrimento cuja única razão é o próprio exercício da vida.
Perder um emprego, um amigo ou um pet são consequências das vidas vividas com eles, portanto é uma consequência natural e não uma doença.
É por isso que a dor do sofrimento por luto, que nem sempre precisa que haja morte envolvida, é uma das formas de sofrer mais comuns no mundo.
Eis o estranho abismo: não é uma doença e provavelmente todos passaremos por isso, então, por que haveríamos de encontrar tantas barreiras para falar disso no mundo?
Em uma das apresentações que participei como ouvinte, me chamou atenção uma pergunta da palestrante: onde estão os conversadores sobre o Luto?
A questão dela é um dos assuntos que, em nossa cultura, mais me interessam: a falta de opções de conversação para assuntos como morte e luto em nosso entorno.
Ela ilustrou a questão ao trazer um conto de Tchékhov (A angústia), onde um cocheiro que perdeu um filho e sem conseguir guardar o assunto em silêncio por não ter com quem falar, vai até seu cavalo e conta para ele sobre sua tristeza.
O luto é um assunto impopular.
Quantas vezes nas últimas semanas você falou ou ouviu conversas sobre o Labubu, bebê reborn ou o morango do amor?
Aposto que mais do que gostaria.
É evidente que são coisas muitas vezes de pouca importância e muitíssimo passageiras.
Talvez seja pedir muito, mas vivo por acreditar que o assunto dos lutos pessoais possa algum dia gozar de tamanha facilidade de compartilhamento.
Recentemente vimos a apresentadora Tati Machado abrindo seu luto em entrevista no Fantástico. Em situações como essa, vemos crescer um interesse acerca do tema e acredito que nos beneficiamos com isso como um todo.
Na participação dela (tanto na entrevista do Fantástico como no Mais Você) pudemos ver suas particularidades e somos levados a encarar a coisa como ela é, um fenômeno muito complexo e sem roteiros.
Em sua experiência, ela diz, entre outras, que ainda não se sente preparada para ver os registros em foto do nascimento: isso nos convida a compreender a cena com mais responsabilidade e acolhimento a um assunto tão presente para a experiência humana.
Sempre soube que fazer terapia não é uma realidade para todos, devido, principalmente, ao custo e talvez pessoalmente não consiga fazer nada a esse respeito.
Mas não posso concordar que somente encontremos lugar para nossos sofrimentos pagando consultas semanais.
Acredito sermos capazes de permitir que assuntos como esse possam existir dentro de nossas relações e que, com isso, possam receber acolhimento e transformação necessárias a quem sofre.
Por essa razão, tomei o termo da palestrante emprestado e passo a me considerar um conversador sobre o Luto.
Assim, espero poder oferecer abrigo ao sofrimento de meu semelhante também fora de meu consultório.
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