Imagine uma família que vive em uma tenda simples, sem divisórias.
Reunidos à mesa e sem pressa, pai, mãe e dois filhos jovens se servem de pão e sopa; não dispõem de outra distração dentro de casa senão uns aos outros e as conversas sobre o dia de cada um.
Talvez mais tarde, antes de irem dormir num mesmo horário, algum integrante da família tocará seu instrumento musical e todos vão desfrutar da mesma música.
– É provável que sejamos obrigados a concordar que de alguma forma essa família é bastante unida.
É o recorte de uma cena que representa um período muito antigo e que contrasta bastante com a realidade atual.
Nossas casas hoje têm paredes e portas, alimentamo-nos com maior quantidade de opções e comemos separados por que às vezes chegamos em casa em horários diferentes, seja por trabalho ou estudo.
Temos jogos, celulares, computadores e tv, eles chamam atenção e consomem nosso tempo.
À noite podemos ouvir nosso estilo de música preferido com fones, numa infinidade de opções e que dificilmente será o mesmo para todos da casa.
Observem que não há nada de errado com isso, mas é evidente que a proximidade física se tornou mais difícil.
A multiplicação dos estímulos e as possibilidades do mundo nos esparramou e convivemos um pouco mais distantes uns dos outros, o que nos permite desenvolver individualidades mais acentuadas.
É disso que se trata quando dizemos que a experiência de vida se complexificou, os avanços tecnológicos e culturais do último século transformaram (e transformam) radicalmente a realidade diária.
A frase “no meu tempo era diferente” representa muito bem essa constante mudança e a tendência é que ela continue a servir por muitos anos à frente.
Essa complexidade não é novidade, mas seu caráter imprevisível e sem manual transforma a vida em um pequeno desafio. Isso torna a relação entre pais e filhos adolescentes especialmente única.
Se a idade adulta é caracterizada por uma certa estabilidade, a adolescência (última a ser reconhecida como uma fase da vida) exige uma reinvenção constante. Essa diferença costuma favorecer, muito frequentemente, estranhamentos e isolamentos no convívio familiar.
Com o mundo na palma das mãos em uma tela de 6 polegadas, em pouquíssimo tempo a criança cresce e não a reconhecemos mais em seus modos de agir e pensar.
Como terapeuta de adolescentes procuro fazer o dever de casa; pesquiso e consumo seus jogos, filmes, músicas e leituras preferidas, surpreendo-me sempre com eles pois nunca são óbvios.
Exponho interesse legítimo em escutar suas ideias, mesmo quando são poucas ou desconexas, afinal, essa é a única maneira de poder lhes oferecer alguma ajuda, sem escutá-los eles provavelmente também não ouvirão.
Fora do consultório continuamos a dispensar o clássico tratamento de lacuna a eles: educá-los como se ainda crianças e cobrar como se já fossem adultos.
Em tempos rápidos e no estágio mais rápido de todos corremos um risco de sermos apartados completamente de suas realidades subjetivas se não fizermos nossa parte ativamente.
Por essa razão, mergulhe em seus mundos, conheça seus memes aleatórios preferidos e ouse descobrir suas ideias mais estranhas.
Não para vigiar e tampouco para se tornarem grandes amigos, mas para compreendê-los e enxergá-los a fim de que possam cultivar proximidade e confiança.
- Ponte danificada pela chuva no Xaxim já está sendo reconstruída
- Novo itinerário da Linha Érico Veríssimo/Pantanal beneficia moradores
- Paróquias Sagrado Coração de Jesus e Santa Rita de Cássia receberão novos Párocos
- Pavimentação concluída em mais ruas da região
- Time do Tatuquara campeão do Brasileirão Kids de escolas de futebol