Desde o fim do mês de Maio, usuários do Whatsapp – mensageiro instantâneo mais utilizado no país – podem optar em ouvir mensagens de áudio aceleradas.
A novidade, também presente no Youtube, foi aparentemente bem recebida pelo público e faz parte de uma constante e rápida evolução tecnológica que facilita e transforma nossa vida de maneira direta.
Desde a invenção do carro, passando pelo aparelho de microondas, até as mil e uma coisas que as futuras conexões de internet rápida ainda nos permitirão, estamos cada vez mais tentados a levar a vida numa velocidade maior, realizando mais coisas num mesmo período de tempo.
A esperança escondida nos áudios a 2x (dobro da velocidade) é permitir que se escute tudo na metade do tempo, para que, eventualmente, se possa ouvir o dobro da quantidade em relação a como era antes. Na prática, somos estimulados a fazer sempre mais.
Somos seres de grande potencial adaptativo. Se hoje é bastante difícil ouvir e compreender a 2x, em pouco tempo estaremos “entendendo tudo” na velocidade máxima.
Será mesmo?
Se por um lado esse assunto não configura necessariamente um problema, por outro, nota-se que essa novidade nos faz lembrar de que começamos, já há algum tempo, a sentir efeitos de uma espécie de descompasso, aparentemente inconciliável, entre a vida acelerada e a marcha natural do corpo e da mente.
Basta lembrar quão comum vem sendo a impressão de que os dias, meses e anos passam cada vez mais rápidos, de como estamos mais impacientes e como a ansiedade – doença do nosso tempo – não para de crescer em nós e entre nós, estando fortemente presente também nas crianças.
Em torno desses referenciais temos exemplos diários. É como receber constantemente a confirmação de que há razões para se ter pressa – e se incomodar – com tudo, no trânsito, no trabalho, no aprendizado e até nos vínculos amorosos.
Em relação aos áudios, o descompasso se dá na habilidade de escuta e de processamento, são funções que ainda operam na velocidade normal (1x).
Em certa medida, a compreensão daquilo que se ouve, quer seja um tema difícil em uma circunstância de aprendizagem ou uma conversa leve, depende de inúmeras nuances que a comunicação orgânica contém e de intervalo para a compreensão, o que se obtém com tempo.
Aqui, o antigo dito popular se faz verdadeiro; “a pressa é inimiga da perfeição”.
Como um limite que tende a ser intransponível, o corpo biológico nos sinaliza que ele ainda funciona em sua marcha natural. Demoramos certo tempo para nos desenvolver e amadurecer e ainda é necessária uma boa quantidade de horas de sono diário, por exemplo.
A sensação de sermos insuficientes e de estarmos muito cansados pode ser um sinal importante e um convite para olhar para nós mesmos.
A razão para se refletir um pouco sobre isso é; afinal, mesmo com toda pressa, é importante ter tempo de se lembrar de perguntar: Onde queremos chegar?