A ligação emocional com determinadas comidas tem relações diretas com os hábitos de consumo alimentar
Uma comida caseira, um bolo feito na hora, ou mesmo aquele cheirinho de fruta fresca.
Quem já não teve a sensação de nostalgia ou lembranças prazerosas com algo do tipo?
Esse é o efeito das chamadas comidas afetivas, ou “comfort foods”.
O consumo desses alimentos está ligado ao objetivo de trazer algum alívio a um desconforto emocional ou à busca de satisfação com algum aroma, sabor ou textura, a fim de experimentar prazer em situações de vulnerabilidade emocional.
Conversamos com a nutricionista Naiara Belmont sobre o tema e sua relação com a alimentação saudável.
Segundo Naiara, o termo “alimentação saudável” pode variar, tendo que ser observados alguns aspectos importantes, como a frequência de consumo, a quantidade e o contexto em que a pessoa consome certos alimentos.
Ela explica que a ligação emocional com algumas comidas se dá na formação dos hábitos alimentares, em especial na infância, por meio do convívio familiar, além de fatores culturais e aspectos sociais envolvendo experiências individuais e coletivas.
“O ser humano também se alimenta de sentimentos e busca afeto em suas relações. Para mim, um ponto que se destaca é a formação de vínculo. Comer determinados alimentos é conectar-se ao lugar ou às pessoas que os preparou”, afirma.
Sob o aspecto nutricional, a comida afetiva e a alimentação saudável têm tudo para estar interligadas.
“Sabendo disso, nutricionistas precisam compreender crenças, sentimentos e pensamentos em relação aos alimentos e como isso o impacta cada indivíduo”
alerta Naiara.
Segundo ela, há algumas técnicas, como o aconselhamento nutricional priorizando perguntas abertas, que ajudarão o profissional a extrair maiores informações da vida do cliente, entendendo as suas experiências e vivências alimentares.
É possível, inclusive, ajudá-lo a ressignificar as relações com o consumo de alimentos, se necessário.
Disfuncionalidade – Naiara ressalta que há dois aspectos centrais a serem considerados. Há os casos em que a alimentação traz lembranças agradáveis e proporciona satisfação, mas há outros, em que é utilizada como recurso de ocultar, evitar ou apaziguar sentimentos dolorosos e pode ser maléfica para a saúde.
“É possível comer um bolinho de cenoura com cobertura de chocolate que te traz à memória as reuniões que aconteciam na casa da avó e todo o carinho envolvido nesse momento, em um dia que você está com saudade dela.
Esse comer afetivo pode se tornar disfuncional se a comida é usada para aplacar aquilo que a pessoa sente. Por exemplo, toda a vez, ou a maioria das vezes, que você sente saudade da sua avó, você come o bolo ou come muito bolo”, diz.
Para a nutricionista, esse comer afetivo pode ser disfuncional se a comida é a única ou a principal maneira de trazer conforto ou afeto para a vida da pessoa.
“Isso é comum em famílias que tem dificuldade de demonstrar afeto pelo carinho físico ou através de palavras. Num caso assim, a comida acaba ocupando um lugar que não é dela”, explica.