Já ouviu a expressão “a ignorância é uma bênção”?
Ela apresenta a ideia de que o “não saber” seria uma virtude. Seu benefício suposto se dá pela tese de que não se pode sofrer pelo que não se sabe.
Talvez isso até funcione – que eu nunca viesse a saber que poderia ter recebido uma grande quantidade de dinheiro, não teria como lamentar, uma vez que nunca soube da possibilidade de possuí-lo.
Acontece que quando se trata de saúde mental, a situação é bem diferente.
Sofremos mesmo que não se saiba ou não se reconheça o motivo.
A ansiedade, por exemplo, é considerada a doença do século e os indicadores apontam para um aumento massivo dela no Brasil, especialmente em tempos de pandemia.
Parece fácil identificar o motivo; estamos ansiosos pois estamos todos enfrentando uma pandemia. Ocorre que essa relação não é assim tão simples e as razões para se estar ansioso(a) são, mesmo nesses tempos, bem mais diversas do que se pode imaginar.
Isso ocorre pois é como se cada um tivesse a sua própria ansiedade, surge e se mantém por uma razão que normalmente se desconhece e pode ter soluções diferentes para cada caso. O ponto é que reduzir a incidência de sofrimento psíquico, ou mesmo tentar curá-lo, requer um certo saber especializado de si mesmo.
Usando a ansiedade como um exemplo, mesmo que eu nada saiba sobre mim ou minha ansiedade, ainda assim tendo a sofrer com suas crises como falta de ar, taquicardia e episódios de preocupação paralisante.
É aqui que a tese da ignorância deixa de funcionar. Se não soubermos sobre nossos sofrimentos, sofreremos mesmo assim e teremos chances reduzidas de solução.
A saída, portanto, é caminhar em direção a conhecer-se. A lógica costuma ser, em primeiro lugar, reconhecer que se está mal e desejar melhorar. Em seguida, é preciso identificar de que é feito o incômodo, como e quando se manifesta para que depois seja viável fazer algo com ele de maneira mais efetiva. Não é incomum que a mera caminhada do descobrimento vá permitindo que ele seja transformado aos poucos.
Uma metáfora que me parece útil é considerar que haja um monstro que nos incomoda sem parar e que nunca deseja ser reconhecido. Depois de algum esforço a gente o reconhece, mede seu tamanho e tende a perder um pouco do medo. É nessa hora que ele, por ter sido descoberto, tende a incomodar menos, tornando mais fácil sua derrubada.
Conquistar bem estar, às vezes, exige certa dose de coragem e esforço, eventualmente apoiando-se em alguém que nos ajude a enxergar coisas de uma perspectiva nova. A vantagem é poder enriquecer a experiência de vida, se surpreender com nuances nunca antes descobertas.
A ignorância sobre nós mesmos não vai nos salvar de nada.
E você? Também sofre com algo e não sabe exatamente o porque? Deixe seu relato aqui nos comentários.
