Para a espécie humana não há som mais inconfundível que o choro de um bebê ou de uma criança pequena.
Por ser intenso e agudo é muito difícil que não fiquemos incomodados quando ele não cessa.
Esse incômodo pode surgir de diversas maneiras e a razão para sua existência é evolutiva.
Os indivíduos adultos precisaram, ao longo do tempo, reconhecer e se incomodar com o choro de bebês incapazes do autocuidado, pois assim garantiriam o esforço necessário para ajudá-los.
As mamães conseguem, com a experiência que vão acumulando, distinguir os diferentes tipos entre fome, sono e algum desconforto físico específico, como dores ou fralda cheia.
Fica claro, desde o princípio, que o choro é uma forma rudimentar de comunicação entre o recém
nascido e os outros ao seu redor, e é fundamental que os pais possam compreender esses fenômenos como uma mensagem destinada à eles.
Esse reconhecimento do choro, ou mesmo do grito, como sendo uma intenção de dizer ou pedir algo é indispensável para que se crie um laço saudável entre os pais e o(a) filho(a).
Também se configura como base elementar para o crescente desenvolvimento da habilidade da fala, deixando de apenas chorar ou gritar para conseguir fazer as primeiras tentativas de dizer algo na linguagem que o cerca.
A evidência de que somos seres sociais se vê principalmente nesse contexto inicial, não só precisamos sustentar a vida com os cuidados básicos para esse período, mas também convidar esse novo membro para ser como um de nós, convidá-lo a falar e ouvir, a participar dos enredos que criamos por meio da comunicação – que nos definem em grande medida.
Nesse momento, é preciso notar, não são só balbucios, mas também olhares, sorrisos e gestos diversos.
Nos primeiros meses ou semanas de vida o bebê já recebe dos seus responsáveis uma parcela adequada de transmissão cultural e social.
Ele nos pede isso com os olhos e, finalmente, de alguma forma faz questão disso quando chora.
E é verdade que quando lhe damos o que pede; alimento, higiene ou cama, acabamos por semear em sua história muito mais do que um simples ato.
Ao fim desse longo ciclo que não para de evoluir e que não voltará atrás, veremos um indivíduo maduro que usará todo seu aparato de comunicação para dizer e assim fazer valer o que se quer no mundo.
Um dizer que nunca termina por falar aquilo que deseja anunciar e que começou, quase sempre, nos chamando a agir diante de um choro insistente.