Uma gravidez é sempre um evento importante na vida de uma família, esse período é recheado de novos desafios para a mãe e o bebê.
Uma segunda gravidez é ainda mais desafiadora por um detalhe comum nos relatos familiares; a mudança de comportamento do filho mais velho.
Recebo com frequência pedidos de ajuda relacionados a essa temática.
Até poderíamos dizer que em razão dessa alta frequência, as transformações ou em alguns casos regressões de padrões dos mais velhos é considerada normal.
Mas há que se atentar para sinais de que aquela “leve dor de cotovelo” não ultrapasse limites aceitáveis e acarrete danos mais sérios àquele que recém perdeu o posto de “único filho”, ou “preferido”.
Tanto do ponto de vista familiar quanto clínico, essas situações não são simples. Contudo, há muitas possibilidades de ação por parte dos pais.
Começo por dizer que certas regressões ou involuções de comportamento em crianças são bastante naturais.
O desenvolvimento infantil se dá por etapas que não são tão bem definidas e costumam variar bastante entre indivíduos. Quando certos estágios evolutivos são alcançados, eles levam um tempo para se estabilizarem.
Voltar a fazer xixi nas calças ou sentir medos de coisas que já não costumavam incomodar são algumas de muitas involuções possíveis na experiência da criança, que cresce e nem sempre estão associadas a qualquer fator externo.
Mas quando ocorre uma segunda gravidez é bastante provável que esses e outros episódios tenham relação com o bebê que virá.
Portanto, se retrocessos em comportamentos podem ocorrer às vezes, com a chegada do bebê, eles se acentuarão com facilidade.
Outra característica das crianças – e de adultos de modo geral – é que temos a tendência natural de nos compararmos.
Esse é um processo automatizado, só conseguimos ser quem somos a partir de semelhanças e diferenças de todos os outros a nossa volta.
Crescemos, evoluímos e nos tornamos únicos graças aos demais.
No caso das crianças, essa característica ganha um efeito inesperado; elas não lidam muito bem com comparações, principalmente quando saem em desvantagem.
Diante disso, pulo de uma vez a uma dica valiosa para mães nessas condições; não compare os filhos, por mais bem intencionada e eficaz que essa ação possa ser.
“Filho, o bebê já comeu toda a comida dele, você ainda não”, “Ele já está de banho tomado, chegou a sua vez”.
Situações assim, sutis e inofensivas, ocorrem diariamente e sem que possamos perceber.
Enquanto isso, o filho mais velho se vê comparado em sucessivas situações de pequenas disputas e pode ver crescer dentro de si uma espécie de confusão em relação a si mesmo ou ao amor de sua mãe por ele, colocando inevitavelmente o novo irmão(a) como o “vilão”.
Uma boa notícia aos pais; perceber a alteração de comportamento em casa de um dos filhos já é um primeiro grande passo, o segundo é desejar melhorar sempre.