Às vezes me perguntam por que leio livros ou porque de minha atração por filmes. Também me interesso por quais seriam as razões que justificam essas práticas.
Dizer que gosto não resolve a questão. Num mundo cheio de opções de entretenimento mais fáceis, ler e assistir tornou-se mais difícil. Mas para quê o esforço afinal?
É porque reconheço em mim (e em grande quantidade de gente) uma tendência terrível; a de enxergar as relações pessoais como óbvias e banais e vivê-las muito superficialmente.
É nessa lacuna que entram as ficções, as biografias e os filmes, especialmente os dramas.
Eles se justificam por me ensinarem a viver melhor e mais intensamente minhas relações. Ter um filho, por exemplo, é algo trivial, uma ocorrência básica da vida.
Mas experimente ler “Crônicas de pai”, (2021) de Leo Aversa, e vai perceber que há muitas coisas nesse fenômeno que passam despercebidos.
Saio dessa leitura completamente transformado na relação com meu filho, e não conseguiria extrair muitas vantagens ou evoluir como pai sem uma referência externa de qualidade, mesmo me dedicando muito.
Outro exemplo mais clássico é a capacidade da arte ensinar sobre o amor romântico. Sem os modelos que o cinema, a literatura e até as novelas oferecem, provavelmente não escaparíamos de repetir os padrões do amor de nossos próprios pais.
Nesse quesito, outro livro que me tocou profundamente foi “Uma questão de vida e morte” (2021), de Irvin Yalom, um diário dos últimos dias de sua esposa, escrito por ambos.
A leitura dessa obra me fez aproximar e me conectar mais à minha própria companheira. Como se não bastasse, também aprendi lições valiosas sobre o luto de perder alguém tão próximo.
Na mesma linha, o filme “Meu pai” (2020) com Anthony Hopkins nos convida a enxergar a relação de pai e filha numa difícil situação de demência. Onde mais poderia encontrar truques para lidar com isso no futuro?
Uma última referência (dentre tantas): como não lembrar de “Marley e Eu” (2008)?
Um filme que me fez dar mais atenção ao cachorro que apenas convivia no mesmo ambiente doméstico que eu. A verdade é que nossa relação foi transformada pelo afeto representado no filme.
Afinal, todas as obras que retratam experiências humanas significativas são um prato cheio de aprendizado, nos ajudam a ver e viver as relações pessoais com mais intensidade e de forma não-automática.
Sempre que passo muito tempo sem dar ou receber uma visita, ou quando um encontro não mexe comigo, procuro nessas atividades alguns truques novos, assim me torno capaz de extrair mais vida dos encontros e desencontros de minha trajetória.
Por acaso, é evidente que esse exercício não diz respeito só a mim; numa geração que tende a passar grande parte do tempo se relacionando apenas por meio dos celulares, a exigência para aprender a viver melhor as relações sociais se tornará cada vez mais importante.
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