Duas instituições públicas, centenárias, com organização administrativa e financeira que dá blindagem contra interferências de políticos e do mercado
Duas instituições públicas, patrimônio do povo, e não de governo A ou governo B, estão sendo protagonistas no combate à pandemia de covid-19 no Brasil. E certamente você tem ouvido falar de ambas: o Instituto Butantan e a Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz). Mas não são as únicas, no país, constituídas para pesquisas e desenvolvimento de soluções farmacológicas.
Aqui mesmo no Paraná temos o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) e o Laboratório Central do Estado (Lacen); outra instituição pública referência nessa área é o Instituto Evandro Chagas, de Belém (PA). Isso sem falar nos centros de pesquisa das universidades públicas brasileiras – tanto as estaduais como as federais. Voltemos ao Butantan e à Fiocruz.
O Instituto Butantan é administrado pelo Governo do Estado de São Paulo. Foi fundado em 1901, na então Fazenda Butantan, zona oeste da cidade de São Paulo. Ele foi constituído para pesquisar e desenvolver soluções para o combate da peste bubônica, cujo surto se propagava a partir do Porto de Santos.
Hoje, aos 120 anos é reconhecido no mundo inteiro como um centro de pesquisa biomédica. Graças a toda essa experiência e credibilidade acumuladas, fechou parceira com a farmacêutica chinesa Sinovac para a produção de uma vacina contra o novo coronavírus.
O acordo prevê transferência de tecnologia, o que dará ao Brasil autonomia na produção desse imunizante.
A Fiocruz é, por sua vez, uma instituição pública federal. Tem sede nacional no Rio de Janeiro, e possui polos em várias partes do país. Em Curitiba, inclusive. Foi aqui na capital paranaense onde a Fiocruz instalou, em 2009, seu primeiro laboratório no Sul do Brasil. Funciona na planta do Tecpar, na CIC.
Também como o Butantan, a Fiocruz nasce, em 1900, para desenvolver pesquisas e soluções no sentido de combater a peste bubônica. O nome é uma referência ao bacteriologista Oswaldo Cruz, especialista que conduziu o trabalho do instituto, na sua fundação.
A sede da Fiocruz, na localidade de Manguinhos, na capital fluminense, é ícone para a saúde pública e a arquitetura brasileiras.
A experiência e a credibilidade acumuladas pela Fiocruz credenciaram a entidade a ser parceira da Universidade de Oxford (Inglaterra) e da farmacêutica AstraZeneca (de origem britânica e sueca) na produção, no Brasil, de uma vacina contra a covid-19. O acordo também prevê transferência de tecnologia.
O Butantan, a Fiocruz, o Instituto Evandro Chagas, o Lacen e, em partes, o Tecpar, compõem a ampla rede de abrangência do Sistema Único de Saúde (SUS). O SUS é o maior sistema público de saúde em todo o mundo – não só em tamanho territorial, como em áreas e serviços prestados. Tem origem na Constituição de 1988.
Apesar do sucateamento recente (por exemplo, com a Emenda Constitucional 95, em vigência desde 2017, que congelou os investimentos públicos por 20 anos), o SUS se mostra essencial para o enfrentamento da pandemia. E isso mesmo sem contarmos com uma articulação nacional nesse sentido, como vem demonstrando a CPI em andamento no Senado.
O Butantan e a Fiocruz são dois excelentes exemplos de como instituições públicas podem e devem funcionar bem. Dispõem de organização administrativa e financeira que garante blindagem contra interferências políticas e contra a cobiça de interesses do mercado.
São duas instituições centenárias, que já passaram por governos das mais diferentes correntes ideológicas e partidárias, preservando a sua razão de ser: servir à nação, não a poderes políticos nem econômicos.
Por mais Butantan e Fiocruz pelo país!
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