Professores, estudantes e familiares foram às ruas nas últimas semanas, em Curitiba e em centenas de outras cidades, contra o chamado contingenciamento de verbas. Saiba por que…
Causou espanto em todo o Brasil uma das primeiras decisões do governo de Jair Bolsonaro, de cortar verbas para a educação.
Chamada oficialmente pelo governo de “contingenciamento”, na prática o que ocorre é o corte de verbas mesmo.
E não é pouco dinheiro: são no mínimo R$ 5 bilhões a menos, tanto para universidades, como institutos técnicos e escolas de nível básico.
O tal “contingenciamento” prejudica todo mundo – quem está e quem não está estudando; quem tem ou não tem filhos na escola.
Prejudica o presente e, sobretudo, ameaça o futuro do país.
Não à toa que desde o anúncio dos cortes estão ocorrendo várias manifestações em centenas de cidades brasileiras, inclusive em Curitiba. As duas maiores aconteceram nos dias 15 e 30 de maio.
Milhares de estudantes, professores e familiares fizeram passeatas e outras atividades de protesto na capital paranaense.
Em Curitiba, existem várias instituições federais atingidas pelos cortes, onde estudam milhares de moradores da cidade e da região metropolitana:
a centenária Universidade Federal do Paraná (UFPR) e outras duas mais novas, Instituto Federal do Paraná (IFPR, criado em 2008) e a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR, de 2005, quando o antigo Cefet foi transformado em universidade).
Principalmente depois das políticas de cotas, do Enem e do Sisu, nos anos 2000, essas instituições deixaram de ser espaços onde estudavam os mais ricos, e passaram a receber grande número de estudantes de famílias pobres.
Os cortes de verbas para essas instituições ameaçam o funcionamento do Instituto Federal, da UFPR e da Universidade Tecnológica.
Os dirigentes dessas instituições alertam que vai faltar dinheiro para a manutenção das instalações – de papel higiênico a segurança, passando por equipamentos e infraestrutura para as aulas. Há risco de fechamento de turmas.
Quem é de família mais abastada pode mudar para uma faculdade privada.
Mas e para os jovens de famílias mais pobres, que oportunidade de estudo eles vão ter?
Mesmo quem não estuda ou não tem familiar nessas instituições vai ser prejudicado também.
Por exemplo: o Hospital de Clínicas, que atende gente não só de Curitiba como de outras cidades do Paraná e até de Santa Catarina e São Paulo, é mantido pela UFPR.
O corte nas verbas deve atingir em cheio esse serviço de saúde oferecido pela universidade.
Mas não é só esse o serviço prestado à comunidade pela UFPR e outras instituições.
Vários outros programas de extensão universitária beneficiam milhares de moradores de Curitiba, como assistência jurídica, atendimento psicológico, serviço social, dentistas…
Sem contar atividades culturais como música, teatro, dança. Tudo gratuito.
Outro trabalho que as universidades públicas como a UFPR e a UTFPR fazem é o da pesquisa, em várias áreas.
São pesquisas que promovem, por exemplo:
- a descoberta de tratamentos de saúde;
- de tecnologias que causam menos impacto ao meio ambiente pela agricultura, pela indústria, pela construção civil;
- de soluções mais viáveis e menos prejudiciais em diversas áreas;
- pesquisas em educação e ciências humanas que contribuem para a construção de modos de vida, políticas e serviços públicos mais próximos da realidade da nação.
Uma das alegações do governo para os cortes é a de que, como a economia está em crise, a arrecadação da União não cresce.
O que é verdade: apesar das promessas, até agora não se tomou nenhuma medida para gerar empregos e fazer o país voltar a crescer.
O que o governo não explica é por que escolhe cortar dinheiro da educação, que é investimento, e não cortar em outras despesas.
Por exemplo: nos primeiros cinco meses de 2019, o governo já gastou R$ 222 bilhões com juros da dívida pública – dinheiro do governo que vai para o sistema financeiro, os bancos. Ou seja, 40 vezes mais do que o que foi cortado da educação.
Por que não tirar dinheiro que vai para os bancos e manter o que vai para escolas e universidades?