Em tempos de “demonização da política”, cabe aos veículos de imprensa responsáveis alertar para a importância do voto
Na edição anterior do jornal Caderno do Bairro, abordamos neste espaço o risco de grande abstenção nas eleições municipais deste ano.
A esse risco se soma também a tendência de muitos votos brancos e nulos, conforme têm indicado as primeiras pesquisas, e de acordo com o que vem ocorrendo nos últimos pleitos.
Diante desse cenário, o jornal Caderno do Bairro, enquanto veículo de imprensa responsável com a comunidade, cumprindo seu dever cívico, vem alertar sobre a importância do voto.
Alertar como é arriscado à democracia abrir mão de ir às urnas, ou abrir mão de escolher candidatos para anular ou deixar o voto em branco.
Deixar de votar, ou anular ou votar em branco, pode parecer um ato de protesto, de insatisfação com “tudo que está aí”. Mas, na real, é algo que interessa muito, mas muito mesmo, só que aos maus políticos.
Aqueles políticos que constroem carreiras nas negociatas; que, depois de eleito, viram as costas para o povo e governam para atender aos interesses de uma pequena elite, para essa gente quanto menos o cidadão participar, melhor.
Quanto mais as pessoas acharem que “político é tudo igual”, “tanto fez esse como aquele”, “dá no mesmo essa ou aquela”, quanto mais agirmos assim, mais o terreno fica livre para os políticos do esquema e da corrupção prevalecerem.
E por que?; porque se jogamos tudo no mesmo balaio, sem separar o joio do trigo, os maus se camuflam entre os bons; como os maus é que têm mais influência, poder, mais chance têm de continuar sem serem incomodados.
A filósofa Márcia Tiburi e o sociólogo Jessé Souza, entre outros pensadores, nos explicam que essa “demonização” da política é proposital, faz parte do jogo.
É claro que os desvios, os desmandos, os desgovernos têm de ser denunciados, mas as boas iniciativas precisam ser noticiadas também. Só que não é o que acontece.
A gente só fica sabendo do lado ruim, do caos. Então, ficamos com a impressão de que “a política não presta”, “político é tudo corrupto”, quando não é assim.
Como ocorre com todas as áreas da vida, há gente comprometida e há gente descomprometida.
Há gente que vem para construir e há gente que vem para destruir. Há boas e há más práticas.
Ir votar é uma das poucas chances que temos de, a gente mesmo, tentar fazer a separação do joio do trigo: escolher quem trabalha corretamente, em prol dos interesses coletivos, para não deixar quem não está nem aí com a saúde, educação, transporte e segurança do povo ocupar os postos de comando e decisão.
É verdade que todo eleitor tem o direito sim de anular o voto ou votar em branco.
Esse direito tem de se preservado, mas tem de ser exercido com absoluta consciência. Consciência,
- de que realmente não há opções (será que não há mesmo? É para refletir);
- consciência dos riscos: ao deixar de escolher uma pessoa, esta recebe um voto a menos, que poderia ser decisivo para ela entrar no lugar de outra que não seria merecedora do cargo.
Desde há muito tempo corre – antigamente, no boca a boca, hoje, por whatsapp – a história de que se mais da metade dos votos de uma eleição for de brancos ou nulos, a eleição é anulada. Mentira, é fake news.
Vários juristas, a cada eleição, reiteram que a legislação não prevê isso.
A advogada Gisele Nascimento, especialista em Direito Civil, em artigo no site “Jus.com”, às vésperas da eleição mais recente (em 2018), afirma: “A suposta anulação da eleição não acontece”.
Ela explica a origem dessa fake news: uma interpretação equivocada, ou propositalmente deturpada pelos de má-fé, do artigo 224 do Código Eleitoral.
O artigo trata da “nulidade” de uma eleição, isto é, quando, depois de realizado o pleito, se constatam ilegalidades (compra de votos, votos irregulares, ou domínio do poder econômico, entre outros motivos).
O artigo diz que se essa “nulidade” atingir mais da metade dos votos, nova eleição poderá ser marcada. Mas isso não tem nada, nada que ver com “votos brancos ou nulos”.
Tanto a advogada Gisele Nascimento, como a filósofa Márcia Tiburi, como o sociólogo Jessé Souza, e tantas outras pessoas e instituições – e inclusive nós, aqui, no Caderno do Bairro – reafirmamos: VOTAR É IMPORTANTÍSSIMO!
A democracia não se resume ao voto, nem só ir às urnas é suficiente.
Mas é um passo fundamental para tentarmos construir um mundo, uma vida melhor. Já vivemos tempos de ditadura e experimentamos o quão cruel é não termos nossos representantes e governantes escolhidos pela gente.
Agora que temos esse direito, não vamos abrir mão, não é? Faltam dias para as eleições deste ano.
Vamos nos informar sobre os candidatos à Prefeitura e à Câmara de Vereadores para fazermos uma boa escolha, segura, responsável, consciente?