Política econômica que atende aos interesses do mercado financeiro está sacrificando o povo – trabalhadores, suas famílias e as empresas que produzem
Você deve ter lido, visto ou escutado nos últimos dias: setembro termina com Curitiba registrando a maior inflação do Brasil. Mas, mesmo que não tenha lido, visto ou escutado, sabe disso porque sente, no dia a dia, o custo de vida disparando.
Você também sabe que o desemprego está em alta. Há muita gente sem trabalho e com dificuldade de encontrar uma vaga. Outras tantas pessoas até estão com algum trabalho, no entanto sem carteira assinada, sem direitos trabalhistas, em situação precária. São bicos, comércio ambulante, prestação de serviços por aplicativos, entre outras ocupações sem nenhuma proteção.
Ao final deste texto trazemos os indicadores que confirmam o que você vive na prática, e ilustram esta nossa conversa aqui. Antes, propomos uma reflexão: por que a economia brasileira real (não a das bolsas de valores e a do mercado financeiro) está na pior? E o que fazer?
A resposta é simples. É como diz o economista e professor Ladislau Dowbor: economia não é nenhum bicho de sete cabeças. Complicam porque, se todo mundo entender como funciona, vamos nos indignar e conseguir modificar o estado das coisas.
A economia brasileira real – a que atinge a vida dos trabalhadores, das micro, pequenas e médias empresas, dos agricultores familiares, dos profissionais autônomos, do MEI – essa economia está em frangalhos porque a política econômica do governo não é feita para estimular o desenvolvimento amplo.
A política econômica é feita para atender a economia das bolsas de valores e do mercado financeiro. É o que afirmam economistas como o já citado professor Ladislau, e ainda Eduardo Moreira, Uallace Moreira, Maria da Conceição Tavares, Débora Freire, Júlia Braga, José Pascoal Vaz, e tantos outros.
Um exemplo: o gás de cozinha, a gasolina e a energia elétrica não param de subir porque o governo abriu mão de controlar os preços. Abriu mão, liberando reajustes a todo instante, para satisfazer os acionistas privados das empresas desses setores.
Mesmo empresas públicas, como Petrobrás, Eletrobrás, Sanepar, Copel, Sabesp, e várias outras, elas têm acionistas privados no mercado financeiro. Esses acionistas não estão preocupados com o impacto dos aumentos na vida dos trabalhadores e pequenos empreendedores, nem dos desempregados, dos aposentados.
O que importa é garantir o lucro de suas ações. Como essa gente é minoria, mas é poderosa (porque tem dinheiro), faz uma pressão danada para que não haja controle de preços pelo governo.
Outro exemplo de como a política econômica do Brasil está voltada para os especuladores das bolsas e não para o setor produtivo está no quanto de dinheiro público é injetado no mercado financeiro.
De acordo com o placar ‘jurômetro’, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), só neste ano, até setembro, R$ 300 bilhões do orçamento da nação foram despejados no mercado financeiro, por meio do chamado ‘pagamento de juros da dívida pública’.
O levantamento faz comparações, para a gente ter uma ideia dessa montanha de dinheiro. Por exemplo: com esses R$ 300 bilhões, o governo poderia construir 4 milhões de casas populares; implantar 113 milhões de ligações de água e 72 milhões de ligações de esgoto. Ou seja, investiria em habitação e saneamento – e em saúde, já que água e esgoto tratados evitam doenças. E geraria empregos na construção civil e em muitas outras áreas.
Já os mesmos R$ 300 bilhões, indo para o mercado financeiro do jeito que estão, não geram empregos nem resolvem problema social nenhum. Mas deixam os rentistas bilionários ainda mais bilionários – e ainda mais poderosos. Resultado de tudo isso: a inflação e desemprego nas alturas.
Aos números: na inflação medida pelo indicador IPCA-15, do IBGE, Curitiba registra nos últimos 12 meses custo de vida 12,6% maior. Entre 11 capitais pesquisadas, a do Paraná teve em setembro a maior inflação em um mês: 1,58%.
O desemprego no Brasil, medido pelo IBGE, é de 14,1% da população economicamente ativa. Índice mais de duas vezes maior que ao término de 2014 (6,5%, o menor da história).
Para terminar, deixamos uma dica: o filme ‘A Bolsa ou a Vida’, de Sílvio Tendler. Está disponível gratuitamente, no Youtube. Explica muito bem como funciona esse poder do mercado financeiro sobre a política econômica.
Assista agora “A Bolsa ou a Vida”: https://youtu.be/N2ERnOk57Z4
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