O que estaria por trás da inesperada comoção que pegou muitos de nós pela morte trágica de um brasileiro e seu cão nas estradas americanas a bordo de seu fusca?
Embora somasse grande quantidade de seguidores em suas redes sociais, Jesse Kozechen não era uma celebridade e muitos passaram a conhecer sua história somente depois do trágico acidente.
Uma das razões do abalo é bem conhecida: a morte dos outros nos faz lembrar (ainda que de forma inconsciente) a nossa própria finitude, sobretudo nas tragédias.
Mas curiosamente a popularidade desse caso não reside em torno do fenômeno de sua morte, mas da vida.
Alguns dirão “fico triste por ele não ter podido viver tudo que tinha pela frente”, o que pode ser verdade, mas isso não dura mais que alguns minutos.
A comoção prolongada e que nos toca de maneira particular não é outra coisa senão da confrontação, em nosso íntimo, dos sonhos e projetos que não estamos colocando em prática em nossas próprias vidas, ou em outras palavras, da coragem que não dispomos e da qual ele tinha de sobra.
Essa comparação é mais simples do que se possa imaginar.
Jesse era um indivíduo comum, com uma história como qualquer outra, possuía um veículo simples e um animal doméstico nem tão improvável como companheiro.
Essa combinação deixa evidente uma constatação simples, a de que não são necessários muitos pré-requisitos para realizar grandes projetos de vida ou para torná-la mais significativa aos nossos próprios olhos.
A aventura deles é estimulante e nos convida a pensar naquilo que poderíamos também realizar, ainda que com sacrifícios.
Sobre eles, não escondia as dificuldades que encontrou ao longo do trajeto e as mudanças de planos nos primeiros períodos da longa viagem.
Inclusive, o nome de seu cão, Shurastey, tem a mesma sonoridade de “Should I Stay”, da música “should I stay or should I go” (The Clash) que explora o drama da decisão de “devo ficar ou devo ir”, como lembrete de que esse insistente dilema nos acompanha como pano de fundo em vários momentos da vida e nos impele a tomar constantes e importantes decisões.
Em suma, o próprio viajante propagava a filosofia do sonho de uma aventura possível da vida real em suas publicações, o que nos fascina e atemoriza por pensar que essa coragem também nos cabe, não para realizar viagens estrada à fora, mas para dar início a planos que projetamos para nossas vidas enquanto ainda é tempo.
Por fim, um consolo para o fenômeno de mortes como essa é que, em geral, embora não se negue a dureza de uma tragédia e a interrupção precoce da vida, existe uma certa simpatia por dar-se conta de que, afinal, encerrou a vida fazendo aquilo que mais gostava, além de estar acompanhado de seu amigo fiel.
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