Somos animais sociais. Essa é a uma das muitas frases que surgiram ao longo dos séculos de civilização e que tentaram nos definir. Por mais estranha ou simples que ela possa parecer, cumpre bem a sua função. Somos seres de sociedade, vivemos em torno de uma interdependência de muitos indivíduos, de pequenos a grandes grupos e nos mantemos em contato constante com os outros do início ao fim da vida.
Sobre esse aspecto, os home office, as aulas à distância e a pouca visitação foram muito comuns e já não são novidade nos últimos 18 meses. Necessárias e importantes como medidas sanitárias, elas nos cobram seu preço e resultam em aparecimento mais intensificado de um fenômeno que já existia, de pouca visibilidade e que está sendo sentido de diversas maneiras; solidão não desejada e seus derivados.
O uso dos mensageiros e das redes (que são sociais) ameniza mas não substitui o encontro social. Crises ansiosas, episódios depressivos e carências afetivas aumentaram em quase todas as faixas etárias como resultado do pouco contato social.
As crianças costumam ser termômetros importantes pois dão sinais mais evidentes e não seguem padrões. Após certo período sem interações significativas com outras pessoas, podem sentir muito medo da proximidade com estranhos e tender a se isolar mais ou o oposto, o de não querer se desgrudar ou não permitir que a visita vá embora.
Para os que estão em idade escolar as reações acerca da retomada de aulas presenciais também chamam atenção. Pode haver grande ansiedade para a volta, com crises significativas de antecipação ou mesmo a recusa do retorno, preferindo o conforto de um isolamento que não é natural mas que de alguma forma já se acostumou. Para os que já voltaram ao convívio, lidar com o coletivo também pode estar sendo um desafio.
Para todos os efeitos, o resultado da pandemia confirma nossa natureza social ao amplificar dilemas que já existiam. O elemento novo que esse período mostrou é o de se dar conta de quão difícil é negar tal natureza ou abdicar de parte dela por algum tempo. Reconhecendo essa característica essencial, nos restaria encontrar maneiras de contornar seus efeitos.
Demonstrar ou dizer do afeto genuíno para as pessoas próximas garante a fortificação dos laços e pode ajudar a diminuir a, às vezes insistente, sensação de que está sozinho(a). Para este momento ou para um pouco depois, temos a chance de, reconhecendo a importância da vida em nosso entorno, reanimar vínculos, quem sabe voltar a falar com pessoas cuja relação ficou adormecida, por brigas ou desentendimentos do passado e que já podem não fazer mais sentido. Quando o distanciamento não for mais necessário, teremos a grande tarefa da aproximação.
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