Ao longo das últimas décadas, estudos em psicologia apontaram que a “falta de dinheiro” – na economia individual e familiar – é um fator de risco para depressão e ansiedade.
O uso da expressão ‘falta de dinheiro’ pode abranger vários significados e situações, como endividamentos, desemprego e baixos salários.
Tal descoberta não é novidade, afinal, o dinheiro sempre foi objeto de grande necessidade e desejo do mundo civilizado. Mas devemos notar que nossa relação com ele vem se modificando.
Tenho visto crescer entre os adolescentes um certo desejo de “ser rico(a)”. Por um lado, isso pode ser positivo, o jovem sedento por ganhar dinheiro fará esforços adequados, como estudar muito, se dedicar a um ofício e ser responsável.
Mas o que se tem visto é uma completa cegueira e ignorância do trajeto que os levariam a seus objetivos.
Isso também não é novidade, a diferença entre querer e poder é bem conhecida no mundo.
Ocorre que o desejo de ser rico vem silenciosamente substituindo o sonho de ser advogado, médico, engenheiro, artista, atleta, astronauta e etc.
O desafio da escolha de um caminho profissional vem se transformado na meta da riqueza por si só. Eles anseiam possuir dinheiro como um fim e não como resultado de suas escolhas.
Isso tende a torná-los seres indistintos – dois jovens que desejam ser milionários não se diferenciam entre si como o aspirante a médico e o estudante de música.
Pior do que isso é que o desejo de riqueza é, na maioria dos casos, uma fábrica de sofrimento que tende a se intensificar à medida do tempo em que o sonhador não atinge a meta de suas cifras.
Isso promove o deslocamento de um referencial importante sobre a percepção de bem estar financeiro, inclusive de adultos mais maduros.
Se alguém que recebe salário suficiente para uma vida equilibrada começar a perseguir riqueza, passará muito rapidamente da satisfação para a insatisfação.
Invariavelmente, esse cenário é o provável resultado de uma maior exposição a estilos de vida diferentes.
Se medimos nosso sucesso pela régua dos outros, a internet ampliou as possibilidades de comparação e nos fez magnetizar por aqueles que possuem maior prestígio financeiro, criando um senso de necessidade que talvez nem existisse sem isso.
A substituição da atenção do filho pelo heroísmo do pai, com sua carreira de policial ou dentista, para o influencer rico, parece ser a nova referência de nossos tempos.
Sem saudosismo, aponto apenas para o fato de que esses novos tempos trazem novas formas de sofrer.
Se a promessa de riqueza é irresistível, agradável e bonita, o caminho para isso tem sido triste e sem sentido para um punhado de gente. Para quem acreditar que o tema não lhe diz respeito, aproveite para realizar um simples teste.
Por uma semana, procure verificar quanto tempo passa falando ou pensando em dinheiro (na falta dele ou no anseio de muito).