De que é feita a impaciência de nossas crianças? De onde vem uma série de sinais que estão cada vez mais se assemelhando a crises de ansiedade bastante difíceis de contornar?
Dificuldade para esperar por algum evento do fim de semana, insônia, irritabilidade e impaciência já parecem coisas “do dia-a-dia”. Esse pode ser o caso dos adultos, mas é um pouco inadmissível que essas características estejam presentes nos pequenos também.
No fundo, não há grandes surpresas, esses fenômenos surgem em consequência quase direta da vivência com os pais. Quando estamos correndo muito, sempre atrasados, preocupados e inquietos, passamos aos nossos pequenos a mensagem de que há motivos para correr, de que não há tempo a perder.
Por outro lado, há práticas que podem estar favorecendo o surgimento desses males. O uso indiscriminado de TV, celular e videogame pode deixá-los ocupados e calmos por longo período do dia e facilitar a harmonia da casa, mas a exposição exagerada tende a cobrar alto preço quando estiverem ou precisarem ficar sem os aparelhos. Isso porque o uso deles aciona de maneira muito rápida o seu sistema de recompensa cerebral.
Por se tratarem de atividades passivas (assistir) ou com baixo gasto energético (jogos eletrônicos) elas exigem pouco esforço para obtenção do benefício de prazer (liberação de dopamina no cérebro). Ocorre que depois de um tempo a quantidade desse prazer obtida por esses meios passa a diminuir, o que tende a levá-los a desejar usar cada vez mais os aparelhos. À medida que esse uso aumenta eles deixam de diversificar suas atividades e no longo prazo experimentam um desenvolvimento empobrecido.
A relação dessas atividades de esforço cerebral mínimo para obtenção de prazer – além do cenário de pandemia – é uma das razões para problemas infantis cada vez mais dramáticos e recorrentes.
Pais e mães que tentaram limitar o uso desses aparelhos conectados já podem ter percebido e se surpreendido com a reação dos filhos. As mais comuns são irritação, agitação, confrontação e tristeza. São indicadores de que já havia um ciclo de certa obsessão pelo uso e que já vinham sentindo dificuldades de realizar outras tarefas, como se seus cérebros fossem reféns somente dessa experiência.
Em situações como essas é ideal favorecer atividades que exijam mais recurso cerebral, que eles possam se esforçar mais para obter o devido lazer, permitindo que se gaste energia em boa proporção com a diversão que poderá ser extraída, impedindo sobras de energia.
Por fim, é bom lembrar que os adultos também estão passando (e perdendo) bastante de seu tempo com os celulares e redes sociais. A diferença é que as crianças e jovens não são capazes de regular ou limitar o tempo que passam neles, essa ainda é uma de nossas duras tarefas.