Se tomo uma pedrada ao andar na rua, um instinto de preservação será ativado e correrei a fim de evitar ser atingido novamente.
No mesmo instante, o corpo inicia um processo para lidar com a dor. Se isso ocorresse a um animal, a reação provavelmente seria a mesma.
A nossa diferença é que vamos muito além desse protocolo instintivo. Precisaremos fazer perguntas essenciais: por que a pedrada e de onde ela surgiu?
Mais do que isso, depois que a dor e o susto passarem, ainda resta pensar o que fazer a respeito.
Esse exemplo simples pode ser pensado em termos mais simbólicos.
As pedradas da vida (ou as pedras no caminho) fazem parte do pacote normal de uma vida, aqui, uso essa expressão para designar problemas individuais de cada um, sejam mazelas, catástrofes, doenças e toda sorte de azares pessoais.
Seguimos adiante apesar desses entraves, mas não sem nos questionar sobre a origem e a função dessas ocorrências.
Uma coisa não vai muito sem a outra; engolir o revés sem compreendê-lo é uma violência.
Conseguiremos combater melhor nossos desafios quando encontramos algum sentido no sofrimento.
Nesse sentido, com o bem-vindo aumento do interesse sobre o tema da saúde mental na internet, tenho visto crescer uma tendência que parece ser do universo da psicologia, mas não é: a popularização de explicações gerais para questões individuais.
São nomes e termos que, em tese, descreveriam as razões de alguma característica pessoal ou de algum padrão de dificuldade.
A dinâmica segue um modelo muito simples, “fulano fez isso porque é aquilo”, “eu sou assim porque tenho aquele outro”, “isso acontece por causa disso”.
São diagnósticos vagos, muitos deles inventados e tornados famosos pelas redes, e o máximo que fazem é oferecer algum alívio a quem procura por respostas.
Costumam ser generalizações amplas, categorias e etiquetas que vestem diferentes pessoas de forma indistinta.
É como se tivéssemos explicações prontas para diferentes pedradas que tomássemos.
Não é novidade que o mundo sempre procurou respostas externas para os infortúnios pessoais e que a internet potencializou isso.
Também é verdade que isso facilita as coisas, mas em matéria de desenvolvimento pessoal, a facilidade é o avesso do avanço, sem contar que muitas explicações gerais não resolvem a questão de um conflito individual, tornando a facilidade um elemento sem serventia alguma.
Desconfio que não conseguimos lidar verdadeiramente com nossas mazelas particulares se não pudermos encontrar nossas próprias respostas individuais.
E, quando por ventura não houver explicação, que possamos ter a liberdade e coragem de criá-la à nossa própria maneira.
Meu desejo para o ano que se aproxima é que possamos realizar a tarefa árdua de verdadeiros mergulhos para dentro de nós mesmos e descobrir tudo que nos torna únicos, decidindo por conta própria como interpretar e o que fazer com nossas pedras.
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