Tenho notado ao meu redor, especialmente nas mídias sociais, um padrão curioso nos desejos de jovens adultos que se encontram entre os 20 e 35 anos, recém-estabelecidos ou prestes a isso.
O que chama atenção é como eles parecem desejar menos do que provavelmente aspiravam na adolescência.
Na rica janela para o mundo que a internet se tornou, constato como eles (e muitos de nós) demonstram satisfação com coisas singelas.
Postagens e curtidas destacam prazeres simples: um fim de semana inteiro dentro de casa, debaixo das cobertas, com roupas confortáveis e uma série favorita na TV.
Outras postagens celebram o cuidado com a casa e o uso de utilidades domésticas como conquistas de grande valor e satisfação.
Esse conteúdo revela uma plenitude que sentem na repetição dessa rotina. Apesar de me preocupar com a possibilidade concreta sobre a capacidade de pessoas de alcançar seus objetivos, como psicoterapeuta me ocupo muito mais em ajudá-las a sonhar do que com auxiliá-las a realizar seus desejos.
Trocando em miúdos, fazer desejar é mais uma tarefa minha do que qualquer outra coisa. Isso porque para a psicologia, uma certa dose de insatisfação é necessária a todo movimento de criação de novas ideias, projetos, sonhos e desejos.
Ela precede e é um ingrediente necessário para poder desejar e, portanto, uma das características mais fundamentais de um indivíduo saudável. Funciona como uma mola propulsora e é o avesso da depressão.
Voltando às postagens, o incômodo não transparece; os pedidos resumem-se ao desejo de que a semana termine logo para que possam descansar em casa.
Assusto-me por pensar que anos antes seria provável que esses adultos estivessem sedentos por engolir o mundo todo.
Se por um lado uma certa acomodação dos sonhos e anseios de um jovem à medida que amadurece parece algo natural e bem-vinda, por outro preocupo-me como foi o processo dessa transformação tão grande em tão pouco tempo.
E aqui não se trata de não manifestar gratidão e alegria pelas conquistas significativas que realizamos.
Em tempos econômicos e sociais difíceis, encontrar paz na própria casa é evidentemente um indicativo de qualidade de vida.
Mas talvez eu simpatize pela força de desejar de um adolescente que tem a liberdade de se entediar, de desejar e de inventar universos futuros que lhe pareça melhor dos que o que ele já possui.
Quem sabe meu olhar desconfiado estivesse à procura de alguma reticência nessas publicações, algo que revelasse uma inquietação subjacente.
Talvez por isso eu sentisse vontade de perguntar – e até provocar: “O que mais vocês querem? Não parem por aqui.”
Em resumo, ao me deparar com essas postagens e na grande quantidade de pessoas que pareciam estar plenamente satisfeitas com seus fins de semana, me lembrei de uma velha lição da psicologia: não existem vidas definitivamente resolvidas.
E você? Como estão as suas aspirações para uma vida boa?
Você se sente insatisfeito ou “plenamente satisfeito”?
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