A medida é drástica, porém, inevitável: do contrário, não vai parar de morrer gente por covid-19. Os efeitos colaterais são graves, mas podem ser tratados. É só querer.
“A maior restrição da liberdade é a morte”. A declaração é do prefeito de Curitiba, Rafael Greca, e foi dada no último dia 19 de março, quando anunciou a prorrogação das medidas restritivas para conter a disseminação do novo coronavírus.
Assim como a capital paranaense e sua região metropolitana, diversas outras cidades, metrópoles e estados pelo Brasil, na falta de uma ação coordenada no plano nacional, vêm decidindo pelo “lockdown”, por conta própria.
Contudo, gestores públicos, dos mais variados partidos, que estão tomando essa iniciativa, vêm sendo bombardeados por pressões de grupos minoritários, mas com muita força de comunicação – principalmente por mídias digitais, como whatsapp.
A fala de Greca é uma resposta a uma falsa informação recente que vem circulando nessas redes: a de que o lockdown é uma espécie de “estádio de sítio”, uma restrição a direitos essenciais, como o de “ir e vir”, o direito à liberdade.
Essas mensagens omitem duas premissas.
Uma: a liberdade de qualquer pessoa vai até onde começa a liberdade de outra. Há, inclusive, um ditado, fruto da sabedoria popular, que diz exatamente isso.
A outra premissa omitida nessas mensagens é esta: uma ação individual não pode atentar contra aos interesses coletivos, de toda uma sociedade. É uma questão moral, ética, legal, constitucional.
Sim, todo mundo tem o direito de ir e vir. E nenhum lockdown acaba com esse direito. O que o lockdown faz é regulamentar o uso desse direito, por um determinado tempo.
“Quando o direito de ir e vir põe em risco um outro direito, o da saúde, e da vida, é preciso regras para garantir que todos esses direitos – o de ir e vir, o da saúde e da vida – possam existir, de fato.”
Neste momento em que a pandemia de covid-19 só piora, e em que o Paraná tem a maior taxa de transmissão do país (variando em torno de 1,5), se todo mundo ir e vir ao mesmo tempo mais gente se contamina, aumenta-se a taxa de transmissão, mais gente passa a precisar de oxigênio, de leito em hospital, de UTI… E o direito à saúde fica comprometido, o direito à vida, também.
É o que estamos vivendo…
Assim, para que todo mundo tenha assegurado o direito à saúde e à vida, e também o direito de ir e vir, por um período não há outro caminho se não diminuir a circulação de pessoas – ou seja, implantar o famoso lockdown.
Não somos nós, deste jornal, que estamos dizendo isso. São infectologistas, cientistas, especialistas em geral, sérios, em todo o Brasil, em todo o planeta, que não param de explicar isso.
Não se trata, muito menos, de “defender o lockdown” como se estivéssemos defendendo uma opinião, ou comemorando uma medida adotada.
Não. O lockdown não é bom. Tem muitos efeitos colaterais. Como os remédios, para as mais variadas doenças: os remédios não são saborosos, não são bons de tomar. Trazem muitos efeitos colaterais. Só que há momentos que não se tem outro jeito: ou se toma o medicamento ou se piora, se definha, se morre.
Quando a gente está com um problema de saúde, quanto mais tarde se começa a cuidar da doença, mais difícil é tratar e mais cruéis são os efeitos. É o que acontece com o lockdown.
Essas medidas restritivas eram para ter sido tomadas há meses, antes do colapso, justamente para evitar o colapso.
Mas, como grupos minoritários contrários têm muito poder político e econômico, e na falta de ações nacionais, prefeitos e governadores, dos mais variados partidos, estavam sem forças para tomar medidas mais efetivas.
Só agora, que o colapso chegou, e atinge inclusive os mais ricos (falta leito não só no SUS; falta leito nos planos de saúde mais sofisticados), é que, enfim, o lockdown está sendo adotado.
Sabemos e temos total consciência que o lockdown prejudica principalmente os mais pobres, as micro, pequenas e médias empresas.
É um efeito colateral muito grave: gera desemprego, fome, miséria, desesperança. Mas é um efeito colateral que tem como ser tratado, basta as instâncias governamentais quererem.
Como? Adotando auxílio emergencial digno e universal; concedendo subsídios ou financiamentos e juro zero a micro, pequenas e médias empresas. “De onde viria o dinheiro?”.
Implantando a taxação de grandes fortunas (tem gente bilionária ficando ainda mais bilionária com a crise), taxando os lucros e dividendos dos bancos (nem precisa ser muito; o lucro deles é tão estratosférico que uma taxação mínima é suficiente). Enfim, há muitas formas, viáveis, de se compensar as perdas econômicas do lockdown.